Me sinto como um artista.
Pobre.
Pouca tinta para misturas, pinceis gastos.
Alguns pequenos quadros pintados.
Duas ou três encomendas de amigos mais pobres que eu.
Talvez nem possam pagar, eu entendo.
Um artista enlouquecendo.
Já não há mais o que comer, os chás já me enjoam.
Um toco de grafite resiste à mão.
Haverá ainda um retrato a rabiscar.
Depois uma orelha cortada.
A espera.
O que mais eu sei fazer?
O que mais eu posso fazer?
Comerei por fim as ervas do campo.
Beberei no córrego a última água viva.
E quem são os animais?
Eu sou um artista.
Os artistas devem ser pobres.
Devemos ver além dos olhos, ser pobres e merecer misericórdia.
Nossa alma vale algumas batatas para cozinhar.
Comerei alguma erva do campo hoje.
De onde vem esta miséria?
Pobre artista.